domingo, 26 de outubro de 2008

Verde ver.

Verde ver de perto,
o verde não está longe,
a gente toca.
Pra que azular?
Se o ver de perto vibra
e o verde é mais vibrante.
Verde esse caminhar,
ver de verdade,
verde ser... Verdecer.
A vida verdejar
ver desde já o olhar.
Ver de perto não vendar,
Verde vem me dar
Ver de olhar.


Meu.

Demorei, mas voltei.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sofá Poético



Anseios... Os olhos e imaginário tendem a achar belas as coisas cheias de confeitos. Quando o encantador realmente está por dentro de todo aquele enfeite.

O sofá da sala era pequeno para a bagagem de sonhos que se deitava ali. Era pequeno para a bolsa jogada nele depois de um dia cansativo. Era pequeno para a pilha de livros nos quais era dedicada aquela atenção-desatenção diária. Mas mesmo sendo pequeno, era do tamanho perfeito. Sim, perfeito para os corações em paralelo, ora emaranhados, mas sempre buscando serem um só. No sofá não cabiam as risadas soltas por besteiras ou ações feitas, não cabia o nariz sujo de sorvete e as cócegas trocadas, as caras dengosas e maliciosas. Não havia vaga para as conversas cheias de importância, para as palavras de efeito, para todas as palavras. Não tinha espaço para o silêncio carinhoso, para o silêncio apaixonado, para o silêncio atencioso...Aquela cena caseira de pijamas e filme, ou jornal, passando na TV, aquela cena de cochilos e afagos. Tudo era tão grandioso e precioso que não cabia nem na sala, tomava espaço da varanda e das flores que estavam nela.
Marés de sensações tão perfeitas que o resto deixava até de ser resto para ser pó do pó. Nada de cenas do mocinho correndo pelas ruas para chegar na casa da mocinha antes que ela fosse embora com as malas. Nada de festas elegantes e o beijo na frente do chafariz. Nada de helicóptero fazendo chuva de rosas. O sol e a lua eram secundários. Chuva e vento só reafirmariam a beleza daquela naturalidade. O romance estava ali, a poesia estava ali, no sofá.





-Quero um conto "sofádiano"-

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Papel Tatuado

Existia a cadeira, a mesa, o lápis, a borracha e os papéis.Sentada na cadeira, havia uma menina. Em um rosto nada velho aquela velha expressão de atenção a tudo, realmente tudo. Ela precisava das palavras tanto quanto do ar. Alguns papéis no chão, amassados e rasgados, outro com inúmeras frases buscando uma união. Só que a explicação para o que se procurava explicar estava ali, no apagar. Eram desnecessários tantos papéis amassados e rasgados... Quem tem uma força na escrita percebe que ao apagá-la o que desaparece é o grafite, porque a marca da palavra ainda está ali.. Exatamente isso, mas ela estava tão concentrada em um pulsar que isso quase lhe passou despercebido. A questão é se a escrita foi forte, moderada ou fraca. A resposta para suas indagações estavam ali o tempo todo entre o escrever e o apagar. Bom, tudo bem que não chegava a ser exatamente uma resposta, porque era uma conclusão em forma de pergunta...Mas era mais agradável e confortante saber que tantas perguntas se resumiam em uma só.
Depois dessa descoberta, ela se sentiu como se saísse de um banho frio em um dia completamente ensolarado. Como se chovesse depois de dias secos. Como se tomasse água depois de ter mergulhado em um doce. Aliviada.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Infravermelho

Janela, vento, tecidos e o encontro dos amendoados.
O barulho do relógio é inexistente, o tempo deixa de ser importante, passou a ser nada. Enquanto o sol caminha em direção ao nascimento e a lua se esconde, o filme continua a passar na tela escura dos olhos. E na tela os amendoados vão ganhando brilho, se aproximando, ascendendo e passam a ser avermelhados, lindos castanhos avermelhados. A bomba vermelha dentro do peito passa a acompanhar o ritmo, o ar passa a sair e a entrar com maior força e a ocupar maior espaço. O filme começa a ganhar trilha sonora. Linhas vão se encontrando e surgindo, as bocas ganham uma linha curva que se abre mostrando os diamantes brancos brilhantes. Mãos desenham o abstrato, a suavidade. E mais linhas chamadas sorrisos de diamantes aparecem...
No externo: vento, vento, vento e a cor cereja-escura do cabelo ganha mais vida com os braços do sol aparecendo pela janela. O contador de segundos parece ter ganhado tanta vida que transforma aquele filme em borrão. É, a tarefa de ter que despertar às vezes é tão inconveniente.
Vento, vento, vento... Calor e copo d’água, um começo de dia cheio de rosas bem vermelhas plantadas na madrugada.

sábado, 6 de setembro de 2008

.

Um dos maiores ganhos é descobrir que incertezas são necessárias e fazem bem, principalmente quando você sabe lhe dar com elas. Elas fazem o capuccino ser mais gostoso. Se há música, ela é mais forte... E se há silêncio, ele é bem vindo. Surge a descoberta de que há harmonia na confusão. E que harmonia...
É bom comer devagar, abrir a janela e desligar o som, ligar o som e fechar as janelas. É bom acordar cedo e dormir cedo, dormir tarde e acordar tarde. É bom colocar os pés na água e deitar o resto do corpo no chão. É bom deitar na grama. Tem tanto bom por aí, que eu já até me perdi.

sábado, 9 de agosto de 2008

Erro no programa.

A questão não é sobre quantas chances, se são poucas ou muitas, a probabilidade delas e quando elas aparecem. A questão é você fazer a sua.




Me irrita quando eu quero colocar muita coisa para fora e não consigo. Quando eu sento pra escrever, porque eu PRECISO, e não sai nada. Mil coisas na cabeça, mas nada sai. Nada. Quando era examente esse momento o perfeito pra escrever. Quando eu estou ouvindo a música que meu dia escolheu pra ser a música do dia, quando eu estou nesse estado de inquitação, mas aparentemente quieta. Tudo, simplesmente, tudo. Aquele jeito que só eu conheço e que pela primeira vez não quer funcionar.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vento.

Como quando se é criança e você ganha um presente que nunca imaginava ganhar. Olhos como estrela e bochechas como cerejas. Como quando uma ventania forte entra pela janela e tira tudo daquela velha ordem. Tão desordenado e você se perde em meio a tamanha desordem que a ventania causou.O curioso é: você não reclama, porque em meio aquele calor você pedia pelo menos uma brisa. Nunca uma ventania foi tão bem vinda... Mas aquela outra sensação, não some.Como cartas de baralho embaralhadas e um dia alguém aparece para separá-las por cor, então tudo fica belo de se ver de novo. E para o externo você passa a ser como o sol e ninguém entende, mas vê o sol.
Antes era só uma música, agora não importa qual... Basta tocar pro vento passar desarrumando tudo de novo. Um copo de água, e mais um, então outro, tentando recobrar o fôlego e retomar os pensamentos que estão a mil ou às vezes estagnados em uma única coisa, como uma estátua. Desejando não abrir os olhos e se abrir...desejando ver melhor do que quando os olhos estavam fechados. Vermelho, um sorriso, uma gargalhada, olhos e vermelho mais milhares de vezes.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Metáforas em coma.

As coisas realmente vão acontecendo naturalmente. E você só percebe isso quando elas já aconteceram. Ninguém nota o caminhar, como cada parte vai se encaixando, porque na maioria das vezes não há lógica nenhuma enquanto as coisas se ajeitam... A lógica só aparece depois que tudo está montado, Mas o mais irônico é que certas coisas só vão mudando o sentido da vida e não o sentido do que você sente (e é o que deveria mudar logo). Então, entra esse tal falta de lógica no e daí o fato... Faz parte da compreensão final. E é a única coisa completamente 8 ou 80. Ou vive ali e só aumenta ou morre ali e passa a ser outra coisa.
Ultimamente as metáforas não têm me dado muita chance. Tudo o que eu escrevo vem nu. Sem nenhuma proteção. Não entendo o que acontece. A culpa não pode estar no fato de eu ter deixado de ser puramente coração, porque eu vou morrer sendo coração... É uma das coisas imutáveis em mim. Então, o que será? Aliás, falando em ser coração, eu queria não ser tanto. Controlar esse pequeno ser batente não é das tarefas a mais fácil. Parece que ele tem vida própria, às vezes ele parece um espírito que toma conta do que eu penso e toma conta dos meus gestos, jeito, boca e língua. Uma criatura invasora que não se importa com a minha massa cefálica. Deixa o meu cérebro completamente ausente.
Eu também deveria parar com essa mania de pensamentos aleatórios, mas enquanto o meu antigo jeito metafórico de falar não ressurgir das cinzas, eu continuarei a falar bobagens cruas.

Mimada

São raras às vezes, como agora, que a minha lógica lingüística não consegue transpor o que meu ser batente-perdido pretende dizer. É como entender que um psicólogo não consegue fazer a análise dos delírios de seu paciente. Está tudo transbordando de “não gosto” e de “não quero” porque meu coração é mimado demais para se dar ao luxo de certas aceitações.É uma coisa um tanto quanto incabível. Mas fazer o quê? Tem que ser respeitado. Como eu já disse em textos passados eu não consigo conviver bem com o conformismo, ainda mais quando ele é imposto a mim quando não deveria. Felicidade esburaquenta, droga ! As recomendações “médicas-clichês” são sempre as mesmas e que nunca funcionam bem comigo. Já disse, e sempre vou repetir, nunca peça pra calar meu coração, é decretar morte lenta a ele. E já que ele está sendo obrigado a isso, talvez ele tenha que ir pra algum hospital tomar umas doses de morfina e uns "choquinhos". Nunca queira que ele fique sossegado afinal, enquanto houver marca de alguma importante estrela, ele jamais batera sossegado. A cada arritmia uma pergunta vai para a mente junto a uma lembrança doce, e quando há um segundo de calma eu realmente agradeço. Está tudo literalmente embaralhado, mas pra mim faz algum sentido, eu só queria poder achar.



Texto velho...Muito velho.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Esclarecimentos sobre mim para mim.


A questão é: quando colocaram a ervilha (ou sei lá o que) em baixo dos mil colchões da princesa ela deixou de sentir que o feijão estava ali?
É uma ótima comparação, pelo menos pra mim, até porque esse um texto feito pra mim. Então mais ninguém precisa entender ou saber do que eu estou falando.
A menina que foi deitar nos colchões só foi considerada como uma verdadeira princesa porque ela sentiu a ervilha.
Tem coisas que realmente são engraçadas, claro! Até porque se você não rir... Benditos colchões e bendita ervilha. E bendita princesa também, ela não deveria ser princesa. Não deveria ter se feito princesa. Não deveria ter batido na porta do castelo pedindo abrigo para fugir da chuva e para ter uma boa noite de sono. Muito menos ter dito que era princesa... E o príncipe não deveria ter criado a possibilidade de que ela talvez fosse a sua princesa. A perfeita pra ele. Não que ela fosse perfeita, mas ela era perfeita para ele e faria o que não era perfeito ser perfeito mesmo sem ser.
Lembrei agora de uma frase dita pra mim. Frases... É estranho alguém que consegue expor tão bem metáforas para específicas pessoas não conseguir absorver outras metáforas. É como ser destro e tentar ser canhoto ou ser canhoto e tentar ser destro, você sabe escrever, sabe como segurar na caneta... Mas quando tenta utilizar a mão que não lhe é comum, tudo fica ilegível.
Momento de um pensamento aleatório: o destino é uma coisa tão estranha. Digo isso porque ele causa várias sensações e elas são estranhas, ou pelo menos tendem a isso. Ele é irônico, possui certo sarcasmo, uma pitada de humor negro e uma boa dose de mistério. Quase um enigma. Mas chega ser realmente de pasmar como ele pode ser doce, esclarecedor, perfeito e engraçado. Destino... Já parou pra reparar que às vezes você até advinha qual é o seu, tem certeza de como ele vai ser, mas mesmo assim você ainda consegue se surpreender? Ou então quando você um dia só pensa, nem imagina que algo possa acontecer e então esse algo acontece? E já percebeu como isso pode deixar as pessoas completamente bobas achando que é um tipo de resposta eterna? Eu só sei que eu prefiro nem pensar no destino, mesmo sabendo que ele existe e mesmo tendo minhas apostas pro meu... Porque se eu ficar pensando nisso, pode ter certeza que aos normais eu não pertencerei.
Voltando a princesa e a ervilha. Era destino. Ela era tão verdadeira e tão delicada que foi capaz de sentir a ervilha e eram vinte colchões tentando fazer ela não ser o par perfeito. E a gente com um colchão costuma jogar tudo fora.Colchões...
Outro ponto é que o príncipe não esperava que ela fosse bater na porta de seu castelo, querendo fugir da chuva e ela, a princesa, não imaginaria que naquele castelo estaria o amor da sua vida. Se não fosse a chuva e se não fosse a hora em que ela resolveu dar um passeio ou qualquer coisa do gênero. Se os outros castelos não tivessem fechado suas portas para ela... Se não fosse nada disso ele continuaria sua caçada pelo mundo procurando por ela. As coisas têm sua hora certa, mas é tão difícil lhe dar com isso. Ainda mais quando somos jovens, cheios de expectativas e sonhos. Temos tanta fome que não existe tempo nem hora pra nada. Mas tudo tem sua, tudo. A hora pra ser perfeito. Não vamos colocar toda a responsabilidade no tempo-chato, às vezes a vida e as oportunidades batem na nossa porta mais de uma vez, e a gente por falta de sensibilidade com o momento não percebe as batidas. Já era madrugada quando a princesa bateu na porta, as pessoas podiam ter continuado dormindo...
Não vou dizer o que eu espero. Fiquemos de olho na ervilha, na princesa e no príncipe.



terça-feira, 22 de julho de 2008

Sleeping to dream

Relembrando...

I'm dreaming of sleeping next to you I'm feeling like a lost
little boy in a brand new town
I'm counting my sheep and each one that passes is another dream
to ashes
and they all fall down.

And as I lay me down tonight,
I close my eyes, what a beautiful sight

Sleeping to dream about you
And I'm so tired of having to live without you
But I don't mind.
Sleeping to dream about you and I'm so tired

I found myself in the riches (Your eyes, your lips, your hair.)
And you were everywhere
I woke up in the ditches. I hit the light and I thought you
might be here
but you were nowhere. (You were nowhere)
Well, you were nowhere at home.

As I lay me back to sleep
Lord I pray that I can keep

Sleeping to dream about you
And I'm so tired of having to live without you
Well, I don't mind
Sleeping to dream about you and I'm so tired

(Just a little a lullaby to keep myself from crying myself to
sleep at night.)

Sleeping to dream about you
I'm so tired of having to live without you
Well, I don't mind


(Jason Mraz)




Linda música...rs

"-ites"

Venho por meio deste descrever sobre a minha birranite( é doença que nem hepatite, bronquite, gastrite?). Esses "-ites" da vida sempre incomodam. Estou de birra, quando na verdade eu não estou. Digo que estou birrenta pra não assumir ou ter que acreditar que estou outra coisa. Porque fazer de conta que eu estou de birra é o melhor que faço. Ai...(suspiros). Eu ouvi a porcaria da música quinhentas mil vezes. Raios! Nem podia, nem deveria...Mas o que eu posso fazer? Nada! Isso é o pior! Eu quero falar palavrões hoje, nada de textos cheios de poética e de belezas lingüísticas.
Deve ser a bosta da adrenalina da montanha russa. Só pode! O pior é que a adrenalina me deu coragem pra porra. Merda! Preciso ir em alguma coisa que me dê adrenalina todos os dias... Benditos "-ites". Ainda bem que por enquanto é só a cabeça...Por enquanto, aliás eu acho que é só a cabeça. Bom, assim eu espero. Quando for outra parte afetada eu infarto logo de vez. Ai "jesuis" abana, que eu vou desmaiar.
Eu devia ter nascido boazuda com 1,70. Ia facilitar e muito a minha vida, sabia? Mas fazer o que, a distribuição de massa e gostosura nesse mundo é muito injusta. Tenho que me contentar com o meu jeito franguinho de ser.
Cara de nenem o caralho. Jeito de menininha o cocô. Pelo menos essas são coisas que me fazem única de um jeito fofo. Jeito fofo...só me lasco. Mas tudo bem, estou só desestressando. Eu até gosto da minha meiguice. De vez enquando ela é meio inútil, mas eu gosto!
Semaninha demorada... O que será do dia de amanhã?Acho que vou ir ver logo a porcaria do filme que eu tanto quero. Amanhã eu vejo. O pior é que lá na viagem eu vi uns 500 batman...Ninguém merece. Quanto mais eu fujo mais do morcegão me aparece. Saco.



Só eu vou entender o motivo do Batman ter entrado na história. Filosofias e vivências do meu cotidiano...

domingo, 20 de julho de 2008

Be

Seja o que mais consumiu. Seja o que mais consome. Seja o que não some. Seja o nome gravado no concreto. Seja o que não se esquece. Seja o chão e o teto. Seja a porta e a janela. Seja a vela que faz o barco navegar. Só não seja reto ou linear.

Seja o fogo e o frio. A força do rio. Seja a tarde de inverno e a noite de verão. Seja coração. Seja a importância da importância. Seja o vento que move o moinho. Seja o ninho. Seja mais o olhar. Seja mais amar. Só não seja o odiar.

Seja o mais do mais.Seja o que leva e o que traz. Seja o presente sem estar presente. Como o vento...

Estabelecendo contato.

Acabei de voltar de viagem. Sabe aqueles dias em que você fica olhando pro celular e tentando estabelecer alguma conexão pra receber uma mensagem ou uma ligação? Pois é. Já perdi a conta de quantas vezes olhei meu celular. O pior é que eu não entendo muita coisa do tudo, e não sei se o que eu entendo é certo entender e se o que eu acho é o fato. Os seres do sexo oposto são tão complexos...
Dito.

sábado, 5 de julho de 2008

Hoje, quando eu acordei, eu sorri e dei bom dia ao mundo.

Esperança

Estenderam os tapetes, como se a chuva realmente não fosse dar algum sinal de existência. É quando você insisti em pensar, com extrema intensidade, na vida que nada funciona. As leis que a vida faz não são a prova d'água da chuva, apenas das lágrimas que caem. E a dama continua a caminhar. Sem comutar a sinfonia que sai de seus próprios passos.
O que demoramos a aprender é que enquanto se respira a história não possui ponto final... Que enlevo.
As palavras nos meus olhos... E o rio. Inconstante. Cadê a ponte?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Como esquecer?

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa – como é que se faz quando a pessoa que se precisa já não está lá?

As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?

Devagar. É preciso esquecer-se devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer as maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas!

É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso primeiro aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa, esta moínha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados, se tivessem apenas o peso que têm em si; isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Porque é nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais a falta das pessoas que amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu Amor. E a felicidade. A felicidade faz-nos sentir pena e culpa de não podermos partilhar. É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.

Mas o mais difícil de aceitar é que há lembranças e amores que necessitam do afastamento para poderem continuar. Afonso Lopes Vieira dizia que Portugal estava tão mal que era preciso exilar-se para poder continuar a amar a pátria dele. Deixar de vê-la para ter vontade de a ver. Às vezes a presença do objecto amado provoca a interrupção do amor. É complicado o curto-circuito, o encurralamento, a contradição que está ali presente, ali, na cara do coração, impedindo-o de continuar.

As pessoas nunca deviam de morrer, nem deixar de se amar, nem separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam-se e separam-se e esquecem-se. Custa aceitar que os mais velhos, que nos deram vida, tenham de dar a vida para poderem continuar vivos dentro de nós. Mas é preciso aceitar. É preciso aceitar. É preciso sofrer, dar urros, murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração. Perderíamos a religiosidade, a paciência, a humanidade até.

Há uma presença interior, uma continuação em nós de quem desapareceu, que se ressente do confronto com a presença exterior. É por isso que nunca se deve voltar a um sítio onde se tenha sido feliz. Todas as cidades se tornam realmente feias, fisicamente piores à medida que se enraízam e alindam na memória que guardamos delas no coração. Regressar é fazer mal ao que se guardou.

Uma saudade cuida-se. Nos casos mais tristes separa-se da pessoa que a causou. Continuar com ela, ou apenas vê-la pode desfazer e destruir a beleza do sentimento, as pessoas que se amam mas não se dão bem só conseguem amar-se quando não se dão.

Mas como esquecer? Como acabar com aquela dor? É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.

Há grandeza no sentimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio do remoinho de erros que nos revolve as entranhas, da raiva, do ressentimento, do rancor – temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.

As pessoas morrem, magoam-se, separam-se, abandonam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades. Para esquecê-las, é preciso chorá-las primeiro. Esta é uma verdade tão antiga que espanta reparar em como ainda temos esperanças de contorná-la. Nos uivos das mulheres nas praias da Nazaré não há "histerias" nem "ignorância" nem "fingimento". Há a verdade que nós os modernos, os tranquilizados, os cools, os cobardes, os armados em livres e independentes, os tanto-me-fazes, os anestesiados, temos medo de enfrentar.

Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia – só há lembranças, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.

Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciência e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios. A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.

Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amamos, de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhe compormos redondilhas, mas tudo isto não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isto conta como lembrança, tudo isto conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste inexterminável, barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.

O que é preciso é igualar a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer, é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça nas paredes, dar sangue, dar um pedacinho de carne (eu quero do lombo, mesmo por cima da tua anca de menina, se faz favor).

E mesmo assim, mesmo magoando, mesmo sofrendo, mesmo conseguindo guardar na alma o que os braços já não conseguem agarrar, mesmo esperando, mesmo aguentando como um homem, mesmo passando os dias vestido de preto, aos soluços, dobrado sobre a areia da Nazaré, mesmo com muita paciência e muita má vontade, mesmo assim é possível que não se consiga esquecer nem um bocadinho.

Quanto mais fácil amar e lembrar alguém – uma mãe, um filho, um grande amor – mais fácil deixar de amá-lo e esquecê-lo. Raio de sorte ó lindeza, miséria suprema do amor. Pode esquecer-se quem nos vem à lembrança, aqueles de quem nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e com paciência, aqueles que amámos com paciência, aqueles que amámos sinceramente, que partiram e nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudades.

E quando alguém está sempre presente? Quando é tarde. Quando já não se aguenta mais. Quando já é tarde para voltar a trás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar. Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar? Aí, está o sofrimento maior de todos. O luto verdadeiro. Aí está a maior das felicidades.


(O texto é do MEC)


Retirado de um flog.

domingo, 22 de junho de 2008

O nada no poder.


Eu poderia conquistar mil terras junto aos reis. Poderia sobreviver mil guerras. Poderia cantar mil vezes à mesma canção. Poderia contar mais mil segundos ajoelhado. Eu poderia ser mais que o meu próprio ser. Eu poderia conquistar mil anos, mas conquista mais difícil é a do seu coração.
Eu poderia medir o mundo com uma linha Eu poderia dominar os mares, mas não poderei dominar seus pensamentos. Eu poderia fazer mil promessas a mil pessoas e quebrá-las, mas jamais conseguiria quebrá-las se fossem feitas pra você.Eu poderia sobreviver ao dilúvio, aos tornados... Eu poderia sobreviver a mil enchentes, mas eu jamais sobreviveria à enchente dos seus beijos. Eu poderia ter mil corações aos meus pés, mas jamais terei o seu. Eu poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, mas minha alma, meu corpo, eu peço pra estar em apenas um lugar... Do seu lado. Minha ambição aumenta quando vejo seu olhar. Minha mão estremece quando vejo seu sorriso. Tudo em você me alucina e me hipnotiza. É perfeita a forma como o vento te toca e eu o invejo. Olhar que fascina e me deixa sem direção. Perco o norte e o sul. Você é o oásis no deserto. E agora minhas orações se transformam em súplicas. Desejo de ter, querer. Anseio insaciável.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

1Co 13.8-10

Quem ama é paciente e bondoso.
Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso.
Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quando alguém faz o que é certo.
Quem ama NUNCA desiste, porém suporta tudo com fé, esperaça e paciência.

domingo, 8 de junho de 2008

Musicalidade

O poder da musicalidade de me descrever me fascina e me completa. As várias sensações que ela ajuda a descrever do melhor jeito possível, com seus instrumentos e voz. Diz exatamente o que eu não tenho coragem de dizer. Diz o que eu tenho medo de dizer e então quando eu canto é como se eu estivesse dizendo.

A música me embala todos os dias no mesmo conjunto de vários pensamentos sobre uma única coisa. É como se os arranjos sonoros fossem por mágica transformar todos os meus desejos em realidade. Como se tudo fosse deixar de ser esboço de uma felicidade, pra ser realmente felicidade.

Eu não ia falar muito, mas a vontade não está sendo fácil de controlar. E eu já tenho controlado muitas vontades por aí.

Sabe quando você está dirigindo, é fim de noite e você não tem vontade de correr, só de ir dirigindo e dirigindo ouvindo o som e deixar seus pensamentos irem longe e mais longe. Tem horas que você respira fundo, tem horas que você ri sozinho, tem horas que você sente vontade chorar, tem horas que você conversa consigo mesmo, tem horas que vem uma vontade louca de fazer tudo que você sempre acha que não deve fazer. Mas você está dentro do carro e quando você sai dele tudo passa a ser segredo, mais uma vez.

Eu nem sei quantas vezes deitei na cama e cantei com toda minha alma. Mas essas vezes começaram a ser incontáveis há alguns meses. Tentando, na maioria das vezes, arrancar o que está cravado no peito. Mas parece que quanto mais eu tento, mas longe de conseguir tirar eu fico.

É esse o motivo das minhas arritmias, da minha inquietação e do meu sossego . Eu respiro, ando e vivo por isso sem querer. É como se fosse a minha única opção.

E então o CD volta ao começo. E certas coisas ainda não saíram da minha cabeça.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Eu te amo Calado

Não existiria som se não houvesse o silêncio
Não haveria luz se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim

Cada voz que canta o amor não diz tudo o que quer dizer
Tudo que cala fala mais alto ao coração
Silenciosamente
Eu te falo com paixão

Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer

A vida é mesmo assim
Dia e noite, não e sim

Eu te amo calado
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncio e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e som
Tem certas coisas que eu não sei dizer
(E digo)


Lulu Santos



Porque eu gosto de música. Eu tenho tido momentos criativos, mas eu nunca tenho um papel pra anotar porque eu tó em pé no ônibus lotado indo pro cursinho. E então eu começo a pensar em outras n coisas e esqueço do texto que bolei. Mas as férias estão chegando e eu vou poder postar minhas tentativas poéticas.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Nem um dia - Djavan

Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris



sexta-feira, 25 de abril de 2008

Coleção

Tenho colecionado sonhos. Tenho colecionado saudade. Tenho colecionado palavras. Palavras que queriam pular pra fora da minha garganta. Tenho me colecionado todos os dias. Minhas memórias, meu ar, minha emoção. Tenho colecionado você, mesmo sem querer. Poderia até fazer um álbum de coleções, mas não sei se caberia, porque isso já não cabe nem mais em mim. Colecionei palavras que queria que tivessem sido ditas para o vento, mas quando acho que esqueço, não é o vento que as traz... É, talvez a única coisa que eu tenho tentado colecionar e não consigo é o esquecimento. Figurinha difícil de achar.

segunda-feira, 14 de abril de 2008


Tão dilatado, esse sentir ocupa um espaço. Faz tornar consciente o subconsciente. E cada milímetro, cada poro vai se tornando puramente a flor da pele. É o querer saber a mais, é o egocentrismo se destacando e se escondendo. Se disfarçado em meio ao que é coerente não ser. O egoísmo discreto se torna um defeito presente, como ar. E conte-me quantas horas, quantas vezes e se existe intervalo nesse tempo. Se são inspiradas profundas e suspiros longos. Se a boca cala e os olhos falam. Se o mundo silencia e os gestos fazem barulho. Não é um anseio só da mente, não...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Aberto.

Lembra quando o possível era impossível? Tantas foram as vezes que voltar ao tempo foi uma tentativa em vão e sem fins lucrativos. Tantas foram as vezes que o tempo viveu como um carrossel. Tantas foram as vezes que o tempo fez mal a memória que eu já me esqueci. Esse misto de sensação me tem dado ânsia. Nunca fez bem misturar as coisas. Tal drama já virou dilema.
Palavras perdidas em um pensamento desconexo. A incoerência leva a coerência. Estranho é quando você acaba esquecendo, lembrando, pensado o repensado e o dito. Pois quando mais se pensa mais longe do fundo você se encontra. Então deixa a corda te puxar que um dia você chega a algum lugar... Virou desafio.
Às vezes brinca-se com tudo, quando não é pra se brincar. Às vezes aposta-se tudo, quando não dá para apostar. Essa mania de perto longe, de longe perto. Não me parece coisa de gente sensata, mas dizem por aí que existe um tal de referencial. Então, eu nem sei.
Como poeta apaixonado: oras sofredor experimentando o limão amargo, oras alma rica de tanta felicidade.
Quem foi que tirou o doce da criança? Foi aquela coisa que se sente , mas não se vê. Aquela coisa pintada de vermelho.